fragmento (de um conjunto)

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(agora) o gesto sempre inexcedível
no contorno do som
a mão é um pretexto
solilóquio de teares de azeite e peso lúbrico

dentro da sede
são um crime os nomes
alcançam o que não podem tocar

não me segredam o mais mínimo destino e

sou o desejo que constrói e

penso em cadeiras na solidão dos quartos
penso que são de quartzo os olhos
dos mortos atravessados de imagens
que são adagas e alcatrão por dentro
que são deleite multiforme e eco de odor
que são úteros frios devassados pela inclemência
dos invernos são todo o nome que nunca
se diz em penumbra de salmos
nem em inodora travessia de rios
por dentro são mãos centrífugas semeando sol
que são lavoura e colheita e
depois pólvora navegante e lunar
aspiração de dedos em perímetros balsâmicos
que são o caminho lento para a floresta
para os lagos são a sombra das aves
em dias de migração são de pó
se ouço a loucura em poços fustigando são
pele e queda e punhal

eu vejo
a medusa de olho ciclópico
o coração de basalto semeando os vedas
em sal grosso e leite materno