Porto Kitsh

O meu coração tem um porto
E esse porto um coração.

Aqui é vivo o que era morto
E já não se faz como fazia:
Em tertúlias de cinema de autor e poesia
O que pensava, agora sente
E se mentia, já não mente.

Continuam os pregões, os palavrões,
Os engatatões e os “morcuões”
Agora ao serviço de um granito mais fundo
E cada cidadão um aldeão do mundo
Cada um, o feiticeiro e o feitiço
Cada um, um porto-coração.

Aqui todos dançam e todos dão
(Dão-se tanto!)

E é sem pranto
Que acolhem os náufragos
De tão incandescentes
Dentro do músculo
De mente em branco
Sem pontuação
Sem que a dança pare

Aqui, estes corações-porto,
- Outrora dispersos –
Reunidos pela excitação magnética
De serem um mega-porto
- Que não acolhe a indiferença e que faz toda a diferença -
Rodopiam tanto,
Entre a música e as palavras certas,
Que ficam brancos
Até tudo ficar Branco
Até tudo [rebentar, ficar leve e rarefeito].

Mas ninguém se importa
- Aqui apenas se aporta -
Porque este Porto é assim mesmo:
Longitude e latitude em mutação
Tsunami-unguento em erecção
Bailado de quartzo e feldspatos,
Poema-terramoto de magnitude desconhecida.

E, sarada a ferida,
(Que ninguém via)
É da suma importância,
(Mesmo que ninguém veja)
Que um coração-Porto ascenda das águas aos céus
Para que se levantem os véus
Para que uma Cidade
O seja.


Suzana Guimaraens