Ontem à tarde na Rua de Santa Catarina

Ontem à tarde na Rua de Santa Catarina cheguei ao pé de um estranho e disse-lhe um poema
: um poema qualquer, assim como quem dá uma flor sem nome com terra ainda presa à raiz,
E ele aceitou o poema
E viveu o poema
E de ter os olhos tão abertos
Engravidou do poema
Sem nunca pararmos de caminhar
Entre as gentes e as montras indiferentes
De olhos a dar nos olhos
Sempre, sempre a caminhar
E ao chegarmos à Batalha, já era noite e a flor prenhe havia adormecido,
Quando um vendedor de castanhas nos chamou
Para nos dar uma dúzia delas embrulhadas numa folha do Poema Contínuo.



Suzana Guimaraens