um ser de raízes

são fundos os rostos da memória,
enquanto
na faina do vento, os olhos amam
o cerco de uns braços em torno do peito
desde da raiz da melodia
até à rubra flor do rosto



sempre que alguém canta
nos ledos verdes campos,
a canção das cearas em flor,
um alaúde estremece
na quente solidão das casas



e diz-se depois que
é um luto a mão que assina a carne melódica
na pauta do feno colhido por braços


e diz-se que
é doce a canção,
enquanto
um peito estremece numa véspera de amor


canta a voz:
é doce a viagem,
enquanto
o marinheiro decanta os astros
no cume do verso
à proa da vertigem


e cantam as mulheres em coro:
a canção é uma viagem,
e é o fado do sangue: ser sempre
a semente do rosto,
a força amante dos braços
que circunscrevem os pomares em flor


é fundo sempre um rosto amado
é rósea a mão da cor do fado,
da cor do destino de um verso:
ser de tudo sempre
o obscuro ritmo diverso


um ser de raízes à tangente da fala